O deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), presidiu nesta quinta-feira (24), a reunião da CPI da Lei Rouanet, que ouviu o presidente do Grupo Bellini Cultural, Antônio Carlos Bellini Amorim, apontado pela Polícia Federal como mentor de fraudes na captação de recursos públicos por meio da Lei Rouanet. Durante sua fala, o empresário negou as irregularidades e identificou “exageros e pirotecnia” na investigação.
Belline é um dos alvos da operação Boca-Livre da Polícia Federal, que investigou desvios de R$ 180 milhões de recursos públicos por meio da lei de incentivo à cultura. Segundo as investigações, o empresário seria o mentor do esquema: dos 88 projetos considerados fraudados, 23 teriam sido feitos pelas empresas do Grupo Bellini, com a captação de R$ 11,9 milhões.
Na CPI, o empresário disse que, de 1998 a 2009, apresentou 105 projetos ao Ministério da Cultura, a maioria de produção editorial e de eventos. Desse total, apenas 17 teriam sido avaliados, apesar de a lei fixar em seis meses o prazo para essas análises.
Bellini explicou que, quando um projeto é apresentado, é submetido a um parecerista, a quem cabe a análise de compatibilidade com a cultura nacional e com os valores de uma planilha da Fundação Getúlio Vargas. Posteriormente, passa por uma comissão de notáveis. “Então, corrupção nessas instâncias é muito difícil. São várias pessoas”, afirmou.
“Faz 18 anos que eu entreguei a prestação de contas e ninguém se manifesta. Nunca se manifestaram. Então, nós continuamos a fazer muitos e muitos livros. E, quando ninguém se manifesta, você acha que está fazendo a coisa certa. A aprovação de um projeto tem três instâncias pelas vias normais. Então, a parte de corrupção de funcionário público é muito difícil nessas instâncias normais. São muitas pessoas para aprovar”, afirmou Bellini.
No entanto, o empresário admitiu a existência de “vias anormais”, mas não deu nenhum exemplo pessoal. Ele citou apenas um caso relativo à produção em torno da Bienal de Arte de São Paulo. “As vias anormais são lá por cima. Quando uma fundação de arte, que tem uma dívida de R$ 15 milhões com o Ministério da Cultura porque o projeto dela foi reprovado e, de repente, aparece um acordo. No caso, foi a Fundação Bienal. Isso aí foi noticiado. Na época, a ministra era Marta Suplicy”, declarou.
Reclamações
Antônio Carlos Bellini reclamou que, apesar de a Receita Federal ter aprovado sua contabilidade, o Ministério da Cultura iniciou um “pente fino” em seus projetos a partir de 2012, devido a uma denúncia anônima. Na prestação de contas, Bellini disse ter sido submetido a exigências absurdas, como uma carta de anuência de Ary Barroso, compositor morto em 1964, para a liberação de uso de suas músicas em um projeto que o empresário apresentou recentemente.
O empresário chegou a se emocionar ao dizer que a operação da Polícia Federal, em junho, pôs fim a seus 40 anos de atuação cultural e 18 anos de captações via Lei Rouanet. Ele relatou que está em processo de depressão e chegou a ser internado.
Bellini também afirmou que a PF usou de “pirotecnia” no caso. “Detiveram filhos e até a mulher que serve cafezinho. Destroem famílias e empresas”, criticou.
Ele negou ainda que o casamento do filho tivesse sido custeado com recursos desviados.
Dados bancários
Já o relator da CPI, deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), identificou “incoerências e inconsistências” no depoimento de Bellini e não descarta nova convocação do empresário ou a acareação com Kátia Piauy, ex-contadora do grupo que, em depoimento à CPI, afirmou ter alertado o empresário sobre irregularidades em torno da Lei Rouanet.
Tanto a nova convocação quanto a possível acareação só devem ocorrer após o cruzamento de informações bancárias que ainda será feito pela comissão. Domingos Sávio disse que a CPI pedirá a quebra do sigilo bancário de Bellini e de empresas ligadas a ele e aos projetos considerados fraudulentos. A intenção é identificar o “caminho do dinheiro” desviado e as pessoas que se apropriaram dos recursos de maneira ilegal. “Depois de ter dados concretos nas mãos, fatalmente a gente deverá convocá-lo novamente para explicar esses fatos. E aí eu tenho as minhas dúvidas se ele vai continuar falando tanto sem dizer nada”, disse o relator.
Apesar de também identificarem incoerências no depoimento do empresário, os deputados Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) e Izalci (PSDB-DF) elogiaram a disposição de Bellini de depor na CPI sem habeas corpus nem outro instrumento que dificultasse a atuação dos parlamentares.
Com informações da Agência Câmara Notícias