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A coerência do ator Antonio Fagundes

Prezados amigos,

Esta semana li a entrevista na coluna da jornalista Mônica Bergamo com o ator global, Antonio Fagundes. Fiquei impactado com a aula de dignidade e verdadeira preocupação do ator com a arte brasileira, em especial o Teatro. Fagundes de 68 anos critica a política de incentivo cultural no Brasil.

Quero aqui compartilhar com vocês alguns trechos da entrevista, onde o ator que não inscreve suas peças em leis de incentivo, como a Rouanet, explica porque acha nociva a frequência do uso de leis de incentivos.   Só posso parabenizar o ator Antonio Fagundes pelo posicionamento, a jornalista Monica Bergamo e a Folha de S. Paulo pela publicação desta belíssima entrevista.

“As pessoas [do cenário artístico] não perceberam, é uma pena. Venho falando isso há muito tempo, mas eles não perceberam que estão morrendo. O teatro está morrendo.”

Ele Argumenta que o patrocínio estimula espetáculos com temporadas curtas: “Se ele [o ator ou produtor] vive só do patrocínio, a bilheteria não interessa mais”. Afirma também que a política faz proliferarem salas de teatro com lotação baixa: “Se você abrir os guias de teatro, vai ver que só 10% têm mais de cem lugares”.

Essas salinhas, com a ausência de patrocínio, podem fechar todas. Acabar. Então, essa turma aí que tá reclamando, [dizendo] ‘Como que eu faço, eu que tô começando?’, que vai pra essas salinhas….”

Porque também não aprendeu nada”, continua. “Só aprendeu a captar [recursos]. Não aprendeu com o público dele, não aprendeu com o exercício dele, não aprendeu com as coisas que fez. Não aprendeu que ele tá diminuindo cada vez mais, ao contrário de estar se comunicando. Não aprendeu que não pode cobrar R$ 5 pelo ingresso. Custa caro [fazer um espetáculo]!”, diz ao repórter João Carneiro antes de uma sessão da peça “Baixa Terapia”, em cartaz no Tuca, em SP, com ingressos a R$ 100.

Ao fim do espetáculo, Fagundes anuncia que a peça “não tem parceria de ninguém, nem do Estado, nem de empresa”. O público aplaude com entusiasmo.

Ele, porém, não se alinha àqueles detratores das leis de incentivo que afirmam que os artistas que se beneficiam delas são “vagabundos”: “Isso aí veio dos ‘haters’, que são aqueles que não sabem nada e odeiam tudo”, declara.

 “Se tem uma classe trabalhadora nesse país, eu diria que é a classe artística. [São] eternamente desempregados e têm que trabalhar duro pra continuar por aí. Chamar de vagabundo é desconhecimento. E um certo ressentimento de informações mal assimiladas. Quando você ouve falar em milhões que são empregados para fazer uma peça, acha que o cara tá roubando aquele dinheiro, e não é verdade.”

“Eu acho, sim, que o Estado tem a obrigação de cuidar da cultura. O que acho é que talvez não seja essa [lei de incentivo] a melhor forma. Talvez, se a gente não deixasse os teatros das periferias sucateados, equipasse boas salas e oferecesse aluguel barato, divulgação em massa… Talvez a gente não precisasse gastar tanto e o resultado fosse melhor.”

Apesar das críticas que faz à política cultural, Fagundes diz não acreditar ser visto como “traidor de classe” pelos colegas. “Eu não tô incomodando ninguém a não ser com o meu sucesso. O sucesso às vezes incomoda um pouquinho. Mas, fora isso, eu não estou tirando dinheiro de ninguém, tirando espaço de ninguém, não tô provocando ninguém. Não sou contra nenhum tipo de teatro.”

 Ele já apoiou o PT, mas afirma agora que não vota mais no partido. E diz que se viu “órfão” com a condenação do ex-presidente Lula. “Somos todos órfãos de um ideal, uma ética, um programa cheio de honestidade, de um país que caminhasse rumo à educação. Órfãos de liberdade de imprensa. De tudo aquilo que a gente percebeu que foi prometido e foi literalmente roubado”, afirma.

Mônica Bergamo

Confira a  entrevista completa aqui

 

*Fonte: Folha de S. Paulo

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