Prezados amigos,
Nas últimas semanas, alguns casos de violência e crueldade contra crianças chocaram o Brasil. O que chama a atenção e nos deixa ainda mais perplexos é que essas crianças não foram maltratadas por estranhos, elas foram massacradas por quem deveria protegê-las. A violência intrafamiliar está mais próxima de nós do que imaginamos. Maus-tratos físicos e psicológicos, abuso sexual, estupros, exploração, crueldades de toda sorte no âmbito doméstico, ocorrem em milhares de lares Brasil afora, independente da classe socioeconômica.
Rhuan Maycon da Silva Castro (9 anos) dormia em casa quando foi atingido com facadas no peito. O golpe fatal foi dado pela própria mãe, com a ajuda de sua companheira. Em seguida, o corpo da criança foi cortado em pedaços e jogado em um terreno. O caso aconteceu na madrugada sábado (1/6), em Samambaia – DF.
Três dias antes, próximo à Brasília, foram encontradas quatro crianças espancadas pelos tios, uma delas não resistiu aos ferimentos. As crianças sobreviventes estavam com os joelhos em carne viva e também apresentavam diversas marcas de agressão pelo corpo. As vítimas têm 1, 3, 7 e 9 anos.
Todos os dias milhares de crianças são agredidas por quem deveria dar-lhes amor, proteção e abrigo. Lembro-me quando nos noticiários víamos casos de mães que morriam para salvar a vida de um filho, de pais que ficavam sem comer para que seus filhos se alimentassem. Infelizmente, esse tipo de manchete foi substituída por outras, macabras, tristes e inimagináveis. Pais jogando seus filhos de prédio, violentando, maltratando e abandonado de maneira fria e cruel.
É comum ver algumas cobranças da população e até entendo a demanda por políticas públicas de proteção às crianças e adolescente, mas nenhum plano de governo pode dar a um menor o que é dever dos pais e responsáveis. Precisamos entender que é preciso repensar a forma de nos relacionarmos, é preciso fortalecer as famílias, é preciso cultivar amor e afeto.
Temos muitas crianças em situação de rua, em abrigos, mas também existem crianças em situação de abandono afetivo. A omissão de cuidado, de criação, de educação, de companhia e de assistência moral, psíquica e social de pais e responsáveis está em uma crescente assustadora.
Antônio Jorge Pereira Júnior, professor na USP, em uma audiência pública, nos deixou esta reflexão: “Afeto não é um sentimento, mas um comportamento devido. Ainda que um pai não goste da criança, ele tem o dever pelo compromisso, e deve ter um comportamento que se antepõe ao gostar ou não gostar. A palavra afeto, como já está clara, significa ação imposta ao outro sem a participação do mesmo, já a paixão é algo que o individuo sente na pele, sofre sem a necessidade de uma ação externa. Eu não posso deixar que a vida do outro dependa daquilo que eu sofro ou sinto. Um pai tem o dever de cuidar de seus filhos independentemente de estar num dia bom ou ruim. Filho é filho, independente de você gostar dele hoje ou não. Podemos amar uma pessoa, mesmo não gostando dela, mesmo que algumas situações não nos agradem, temos o dever de nos comportarmos perante ela com respeito e responsabilidade”.